CNA Jovem 10 anos: Caminhos para transformar uma comunidade

By 11/06/2024outubro 31st, 2024Notícias
Capa eduarda cna jovem
A iniciativa de Eduarda Franco ajudou produtores de café em Roraima

Brasília (10/06/2024) – O trabalho do avô no campo trouxe a inspiração. A dedicação no meio rural foi o exemplo para seguir na profissão. No seu trajeto, a jovem precisou percorrer longos caminhos atrás de seus sonhos, mas voltou para aplicá-los com os produtores de uma pequena comunidade em seu estado.

De forma resumida, essa é a história de Eduarda Cutrim Franco, de 26 anos. Ela própria é um testemunho inspirador de como a paixão pelo agro, e a experiência e o desenvolvimento agregado ao programa CNA Jovem, transformaram sua vida e a de cafeicultores da comunidade indígena Kauwê, no município de Pacaraima, a 214 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima.

Eduarda é a filha mais velha de três irmãos. Foi o avô paterno a primeira inspiração para as atividades do campo. Quando ela tinha 12 anos, o pai assumiu os negócios da família em uma propriedade rural na cidade de Caracaraí, na vicinal do Itã. Na época, toda a família precisou se mudar para o sítio.

O avô criava carneiros e cultivava frutas como mamão, citrus e melancia. A produção abastecia o mercado da capital Boa Vista e também era comercializada no estado vizinho do Amazonas. A região sempre foi conhecida por ser rica, produtiva e um polo de fruticultura do estado de Roraima.

Ao primeiro contato com a produção agropecuária, Eduarda se apaixonou. “Esse amor pelo campo, essa sensação de pertencimento vem com certeza do meu avô. É muito importante saber como o trabalho no campo funciona e o seu real valor para a sociedade”.

Para ajudar os pais e os avós na propriedade, aos 15 anos Eduarda se inscreveu em um curso técnico em agropecuária, integrado ao ensino médio. Em meio às dificuldades, ela precisava percorrer 16 km para conseguir pegar o ônibus e chegar à instituição. “Sempre fui muito estudiosa e queria alcançar mais conhecimento, ter uma carreira dentro do setor e com a ajuda de muitos, obtive oportunidades e não as desperdicei”, afirmou Eduarda.

Eduarda durante o curso técnico em agropecuária

Ela não parou por aí. Dois anos depois se mudou para a capital para estudar. Ingressou no curso de Agronomia na Universidade Federal de Roraima e tornou-se a primeira de sua geração na família a ter um diploma de graduação.

Durante os anos de faculdade, Eduarda fez de tudo um pouco: trabalhou na biblioteca, participou do programa de educação tutorial, de projetos de pesquisa e teve experiências enriquecedoras com a comunicação. Após a conclusão do curso, foi contratada por uma empresa privada e começou a atuar em uma fazenda. Depois, foi trabalhar na área de assistência técnica e extensão rural com a agricultura familiar e indígena do estado.

Eduarda durante a faculdade de agronomia

A vida seguia dentro do que ela havia planejado, mas o seu perfil de liderança chamou a atenção de alguns amigos, que sugeriram a ela participar da 5ª edição do programa CNA Jovem, realizada entre 2022 e 2023.

O programa é uma iniciativa do Sistema CNA/Senar focada no desenvolvimento de novas lideranças capazes de mudar realidades locais, gerando valor aos seus beneficiários e deixando um legado de conhecimento no campo.

“Mesmo sendo filha de produtores rurais, o CNA Jovem trouxe amadurecimento em relação ao meu propósito, ao meu legado. Vi minha vida transformar e, a partir daí, impactar e mudar outras vidas. O programa aprimorou meu espírito de liderança, inovação e propósito de vida”, relatou.

Eduarda durante a 5ª edição do CNA Jovem

Foi por meio do CNA Jovem que Eduarda criou o projeto Café 360, direcionado à comunidade indígena Kauwê, que atualmente conta com 150 moradores. A iniciativa visava uma transformação completa, abordando um conjunto de qualificações e orientações que vão desde a gestão, agregação de valor, manejo, colheita, beneficiamento até o marketing.

“Quando o CNA Jovem surgiu, vi a oportunidade perfeita de transformar a vida dessas pessoas. Mesmo com a cafeicultura incipiente no estado, essa comunidade já se destacava com o cultivo. Com a iniciativa, tentamos profissionalizar os produtores, aumentar a participação deles em feiras e quais seriam as capacitações técnicas de acordo com as suas necessidades locais”, destacou.

Eduarda explicou que o atendimento foi feito com três produtores de café e a iniciativa foi apresentado previamente ao tuxaua (liderança do povo indígena). “Os produtores abraçaram a iniciativa e hoje ela é um sucesso, já caminha com as próprias pernas. Até inspirou outros moradores a iniciarem o plantio de café”.

Eduarda e cafeicultores da comunidade indígena Kauwê

A comunidade Kauwê conta com três marcas de café: Imeru, Uyopa e Kaikuxi, e cada um pertence a uma família diferente. “O trabalho deles tem uma história e merece ser mostrada. O café é produzido dentro da região amazônica, de forma artesanal, tem muito valor. Meu objetivo era transformar a realidade daquela comunidade, mudando o cenário da cafeicultura local e deu certo”.

A iniciativa Café 360º teve apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Roraima (Faerr), da Embrapa, do Sebrae Roraima e amigos pessoais de Eduarda, mas para ela, os principais apoiadores foram os produtores. “Aprendi com o CNA Jovem que a iniciativa precisa alcançar benefícios de curto, médio e longo prazos e que deve ser passado para frente. Então, considero a missão cumprida”.

Com seu desempenho de liderança apresentado na jornada do programa, Eduarda ficou entre os 10 destaques da 5ª edição do CNA Jovem e, como prêmio, teve a oportunidade de participar de uma missão técnica que percorreu o Brasil de Norte a Sul. A iniciativa apresentou, durante 17 dias, diferentes sistemas de produção agropecuária nos estados de Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Mato Grosso e Rondônia.

Eduarda durante missão do CNA Jovem

“Foi uma oportunidade única e transformadora. Conhecemos a produção do pequeno, médio e grande produtor, passamos por vários cenários e concluímos que o Brasil possui um agro diverso e sustentável, composto por pessoas de excelência, que amam o que fazem”, concluiu.

A história de Eduarda é um exemplo de como o amor pelo campo, aliado a oportunidades como o CNA Jovem, pode gerar uma mudança significativa não apenas pessoal, mas também em uma comunidade inteira.

Matéria original: https://www.cnabrasil.org.br/noticias/cna-jovem-10-anos-caminhos-para-mudar-uma-comunidade