Conheça a história do indígena Jaoquim Souza Lima Neto
Brasília (10/09/2024) – Desde a infância, a liderança e a paixão pelo aprendizado marcaram a vida de Jaoquim Souza Lima Neto, um indígena da etnia Macuxi, do município de Uiramutã, em Roraima. Determinado a utilizar o conhecimento para ajudar a promover o desenvolvimento de sua comunidade, ele tem se dedicado intensamente aos estudos na busca por melhorias.
Graduado em teologia, ele completou mestrado e doutorado na mesma área, além de ser formado também em pedagogia, sempre em busca de expandir seus conhecimentos. “Vim de uma família muito pobre. Minha mãe foi merendeira por mais de 20 anos e sempre dizia que o estudo era a chave para conhecer o mundo. Além das graduações, busquei especializações em política, administração, economia e turismologia. Sempre tive uma grande paixão por estudar”, ressalta.
Na busca por melhorias para a sua comunidade, Maracanã I, Jaoquim recebeu um convite de seu tuxaua (líder da tribo), Rosario da Silva, para participar de um programa de capacitação para jovens lideranças. Segundo Rosario, o convite para o Programa CNA Jovem surgiu durante uma reunião em Boa Vista, capital do estado, onde ele procurava apoio para o desenvolvimento de sua comunidade.
Jaoquim também contou com o apoio da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiurr), uma organização dedicada ao desenvolvimento socioeconômico dos povos indígenas. Reconhecendo a importância da oportunidade, ele não hesitou em se inscrever, mesmo com a distância de mais de 300 km que separa sua comunidade da capital.
Determinado a beneficiar a Maracanã I, Jaoquim enfrentou a longa jornada para participar das capacitações e imersões oferecidas pelo programa, buscando trazer novas perspectivas e recursos para a sua região.
“O agronegócio sempre me atraiu, pois na nossa comunidade estamos constantemente em contato com plantações e criação de animais. Sabemos que é da terra que vem nosso alimento e sustento. Ter acesso a um conhecimento estruturado sobre o agro foi uma experiência incrível”, afirma Jaoquim.
O CNA Jovem , que comemora 10 anos neste ano, é uma iniciativa do Sistema CNA/Senar com foco no desenvolvimento de lideranças no setor agropecuário. O programa visa promover a sucessão de jovens a posições de liderança nas propriedades rurais, associações, cooperativas e organizações do agro brasileiro.
Após uma imersão no setor agropecuário, Jaoquim criou, em 2016, a iniciativa “Jovens Multiplicadores Liderando o Agro em Uiramutã”. “O objetivo era selecionar e preparar jovens com perfil de liderança para enfrentar desafios e transformar a realidade agropecuária do município”, explica.
Ele explica que o projeto “Jovens Multiplicadores Liderando o Agro” surgiu da necessidade urgente de desenvolver o potencial econômico e ambiental de Uiramutã, um município onde 96% da população é indígena e a maior parte está situada na reserva Raposa Serra do Sol. Esta região é amplamente conhecida pelos conflitos históricos entre indígenas e rizicultores.
O líder comunitário enfatiza a importância de capacitar indígenas nas áreas de ecoturismo e agronegócio, destacando que a falta de qualificação tem sido um obstáculo.
Apesar das diferenças ideológicas entre as principais organizações indígenas da região – Conselho Indígena de Roraima (CIR), Sodiurr e Conselho do Povo Ingarikó (Coping) – há um avanço positivo com a colaboração dos governos municipal e estadual, ambos associados a essas organizações. Polos de grãos já foram estabelecidos, marcando um progresso no desenvolvimento local.
A iniciativa de Jaoquim e a demonstração do seu potencial de liderança perante seus pares reconheceu o indígena como um dos três destaques nacionais da segunda edição do CNA Jovem, em 2016, o que lhe proporcionou uma visita técnica à Nova Zelândia e um curso de inglês. Na Nova Zelândia, ele conheceu as cadeias produtivas de bovinocultura de leite, pecuária de corte, ovinocultura, caprinocultura e viticultura.
Jaoquim destaca a importância da experiência. “Como indígena, foi uma forma de mostrar ao mundo que temos potencial. Para mim, isso representou conquista, inovação e um grande compromisso com meu município e estado. Em 2013, Uiramutã era considerado o quinto pior lugar para se viver. Essa realidade mudou. Com meu projeto, consegui provar que temos potencial e que era possível reverter essa situação. Agradeço pela oportunidade”, disse na época.
Jaoquim implementou o projeto com jovens da região, mas as atividades foram interrompidas pela pandemia. “Mesmo assim, o que foi feito antes teve um impacto significativo na vida dos jovens. Muitos desenvolveram o espírito de liderança e se dedicaram aos estudos”, afirma.
Além de liderar sua iniciativa, depois do CNA Jovem, Jaoquim atuou como secretário de Turismo e Meio Ambiente de Uiramutã, o único município de Roraima que faz fronteira com Venezuela e Guiana, conhecido por sua riqueza natural e pelo Parque Nacional do Monte Roraima. O município também está situado na reserva indígena Raposa Serra do Sol.
Hoje, ele continua trabalhando para melhorar a qualidade de vida em sua comunidade e a implementar projetos voltados para o agro. Atualmente, ele é professor da rede pública estadual. Jaoquim acredita que o programa CNA Jovem mudou sua vida de várias maneiras.
“O CNA Jovem foi um divisor de águas na minha vida. Hoje, sou respeitado em meu município e incentivo os jovens a conhecerem o agro e o desenvolvimento de lideranças. Sou conhecido como ‘príncipe de Uiramutã'”, diz.
A história de Jaoquim é a sétima reportagem de uma série de matérias que serão divulgadas até dezembro de 2024 para celebrar os 10 anos do programa CNA Jovem.
Matéria original: https://www.cnabrasil.org.br/noticias/cna-jovem-10-anos-lideranca-indigena-no-agro